Sempre gostei de viajar, conhecer lugares e pessoas.
Cada lugar tem seu encanto, sua magia, cada pessoa tem seu brilho, e essa diversidade que individualiza todos nós e que faz único cada lugar deste planeta, com seus cheiros e cores, com sua gente, é algo apaixonante.
Faz pouco tempo, estive no Rio Grande do Sul, na cidade de Bento Gonçalves. O grande objetivo era o de conhecer a região chamada de “Vale dos Vinhedos”. Com um nome desses torna-se desnecessário frisar que a grande atração da viagem era o vinho.
Tanto eu como o grupo do qual fazia parte, pudemos conhecer várias das vinícolas da região. O processo de plantio, seleção e fermentação foram explicados, e ao final, a degustação! E assim foram, uma, duas, três e muitas outras vezes... Seguimos adiante. Domingo a tarde já não suportavamos sequer o cheiro da uva, quando mais o gosto do vinho.
Mas, ainda faltava uma – pensamos, a última afinal -. Tratava-se de uma vinícola simples, digo simples, pois eles não produziam em larga escala como as grandes empresas daquela região. Só que nessa vinícola em especial, a princípio não era bem o vinho a atração, mas, a casa. Todos aqueles que assistiram ao filme O Quadrilho devem lembrar que o filme foi gravado naquela região. No filme a personagem de Patrícia Pilar morava em uma casa de madeira com estrutura simples, pois bem, eis a casa.
Entramos naquela construção de chão batido e aspecto totalmente rudimentar. Logo se achegou um senhor (dono da fazenda) para nos recepcionar e dar as devidas explicações. Novamente ouviríamos o que quase já havíamos decorado. Todo o processo de fabricação do vinho.
Assim que aquele senhor entrou, confesso, olhei-o de cima à baixo.
Não eram as roupas simples que chamavam a atenção, mas seus passos... seu porte...ele parecia flutuar...
Naquela altura já estávamos fartos de ouvir informações sobre processos de seleção, plantio, fermentação, etc. E ninguém aceitou degustar o vinho.
E então aquele senhor começou sua explicação. Não disse nada novo. Tudo já havíamos ouvido antes, mas, mesmo assim, suas palavras soavam de forma diferente. Suas palavras tinham, vida! E os olhos! Pareciam conter em si o brilho do sol! Naquele momento senti-me um tanto quanto pesado, e sem aviso uma vontade imensa de chorar, foi então que percebi o restante do grupo e vi todos com os olhos marejados, entregue ao momento não estava apenas eu, mas o grupo inteiro.
Não era o que ele dizia, mas a força de cada palavra! Antes havíamos recebido informes sobre o plantio da uva, mas eles não vieram através de quem levanta cedo e passa o dia inteiro sob o sol a trabalhar. De chofre, o grupo sentiu a diferença e todos degustaram daquele vinho. E não é que ele parecia ser mais doce! Até aquele senhor, surpreso com nossa reação terminou por abrir-se ainda mais, e aqueles olhos pareciam brasas a aquecer onde tocavam.
Sem refletir propriamente nisto acabei por lembrar e decidi registrar por aqui.
Naquele momento não me veio nada a mente, mas agora entendo que aquele brilho no olhar é conseqüência de gostar do que se faz. Que aquele flutuar é natural ao ser humano, deste que ele não se sobrecarregue com tolices. E que toda aquela humildade é própria de quem domina o que faz, e quase nunca tem consciência do próprio saber.
Enfim, um ser humano normal!
Allan Roberto Regis.
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