'/> ·ï¡÷¡ï· V I D A Humana·ï¡÷¡ï·: Cantares de Salomão.

maio 13, 2008

Cantares de Salomão.

A Bíblia Hebraica é o texto fundador do Judaísmo e está na origem dos três grandes monoteísmos: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Sua temática trata da história nacional do povo hebraico que tem seu início com os Patriarcas e vai até a Realeza. Mas ocorre que essa história nacional, graças a atuação dos Profetas e da abertura a outras nações, bem como também de sua aceitação e ampliação, se transforma em uma história que transmite uma mensagem universal, recebendo o valor que lhe cabe.

Os cristãos denominam a Bíblia Hebraica de Antigo Testamento (AT). O AT é dividido em três partes: Lei, Profetas e Escritos. Ninguém sabe quando ou como surgiu essa divisão, uma teoria diz que ela reflita a ordem em que os livros foram aceitos pelo povo judeu como divinamente inspirados e sagrados.

A primeira parte a ser reconhecida como inspirada foi a Lei de Moíses (ou Torá), os primeiros cinco livros da Bíblia.

Os gregos chamavam este conjunto de Pentateuco. No século XVII alguns eruditos começaram a examinar o conteúdo dos cinco livros à luz de suas promessas ainda não cumpridas, mas que teriam sido cumpridas no livro de Josué. Pareceu-lhes então, que a Lei de Moíses (o conjunto dos cinco livros chamados de Pentateuco) estava incompleta, a menos que se adicionasse a eles o livro de Josué. Teríamos então, um Hexateuco (seis livros). No século XIX, alguns estudiosos haviam concluído que esses livros haviam sido compostos com base em quatro documentos primitivos, designados pelas letras J.E.D.P. Algumas defesas apontam Josué como estando envolvido com essas fontes, sendo assim elas deveriam ser consideradas parte natural de uma unidade formada por seis livros.

Atualmente a teoria dos documentos J. E. D. P. tem sido posta em dúvida enfatizando que, se, antigamente houve um Hexateuco, podemos supor que, posteriormente, Josué foi um livro que recebeu uma posição subordinada, por lhe faltarem a teologia, os ritos e as instituições que distinguiam o Judaísmo. Sendo assim o Pentateuco elevou-se dos outros escritos sagrados e tornou-se a base do Judaísmo inteiro, a Torá. Se for mesmo assim, então, o Hexateuco era a unidade literária original e o Pentateuco surgiu mais tarde, por razões teológicas.

Na segunda parte temos os Profetas. Essa categoria subdividiu-se em profetas anteriores, começando com Josué e terminando com I e II Reis; e os profetas posteriores, de Isaías a Malaquias. São consideradas aquelas pessoas escolhidas por Deus que insistiam com o povo, quase sempre sem sucesso, para que modificassem suas ações, os fazendo lembrar do Amor do Criador.

A terceira parte trata dos Escritos (escritores sagrados ou Hagiógrafos). Os Escritos são compostos por treze livros: Salmos, Provérbios, Jó, Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, I e II Crônicas.

Algumas vezes encontramos a informação de que seriam onze e não treze os livros, tal ocorre pelo fato de os livros de Daniel, Esdras e Neemias estarem reunidos como um único livro, o mesmo ocorrendo com I e II Crônicas. Como acontece no livro “A Bíblia e sua história” de Stephen M. Miller e Robert V. Huber. No Talmute é o livro de Rute que abre a lista. Flávio Josefo ao invés de todos estes livros organiza os Escritos com apenas quatro livros: Salmos, Cantares de Salomão, Provérbios e Eclesiastes. Em Lucas 24.44 temos palavras atribuídas a Jesus em que Ele divide o AT de forma diferente: “...Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está escrito na Lei de Moíses, nos Profetas e nos Salmos.”

Bem, agora, proponho refletirmos sobre um dos livros que faz parte dos Escritos, livro que dá título a este artigo, o “Cantares de Salomão”. No hebraico é definido como shir hashirim (o mais excelente dos cânticos). Na Septuaginta, Asma ou Asma Asmáton. Na Vulgata latina Canticum Canticorum.

Tal livro gera sentimentos diversos, o estilo, por vezes, é sentido de modo provocativo. Um exemplo de critica dura ao seu conteúdo é expresso pelas palavras abaixo.

Fonte - http://www.library.com.br/Escrituras/escrituras.htm


“Em relação ao Antigo Testamento é digno de nota o caso do Cântico dos Cânticos de Salomão, uma coletânea de versos licenciosos que foi guindada à canonicidade. Se esse Cântico dos Cânticos é parte integral da Palavra Inspirada, como asseguram ainda tantos teólogos, porque será então que, já no início da era cristã, o famoso rabino Aqiba excluía da ressurreição quem ousasse declamar trechos desse livro durante os banquetes? Por que será que os outros rabinos o interditavam para menores de trinta anos? E porque será que sua divulgação pública, no ano de 1570, granjeou ao imprevidente frei Luiz de Leon, célebre professor da Universidade de Salamanca, cinco anos de cárcere? Um frei preso por divulgar trechos da Palavra divina?…
Na Bíblia judaica, o Cântico dos Cânticos (cujo significado em hebraico é “o melhor cântico”) pelo menos só aparece na terceira parte do cânon – os Escritos, porém na Bíblia grega e na Vulgata latina ele é estranhamente classificado como um dos livros sapienciais.
Na Vulgata recebe o elegante nome de Cantares (cantigas), e pelo fato de Salomão ser mencionado no primeiro versículo é conhecido como Cantares de Salomão.
A respeito desse Cântico dos Cânticos “canônico”, talvez seja útil inteirarmo-nos da opinião do Dr. Andrew Greeley, renomado estudioso da Bíblia. Além de sacerdote da diocese de Chicago, Greeley é sociólogo, jornalista, doutor em filosofia e autor de mais de cem trabalhos acadêmicos e 60 livros. Vejamos alguns comentários do padre Greeley sobre o Cântico dos Cânticos em seu livro A Bíblia e Nós: “A despeito das metáforas que temos dificuldade em entender, juntamente com certas traduções terríveis (e às vezes desonestas), a natureza erótica do Cântico dos Cânticos é patente. Muita gente fica imaginando o que o Cântico dos Cânticos está fazendo na Bíblia.. Alguns cristãos simplesmente eliminaram-no. Outros, especialmente os católicos, resolveram a questão do erotismo do Cântico dos Cânticos simplesmente deixando de comentá-lo. Na maior parte da história dos judeus e dos cristãos, o problema do erotismo gritante do Cântico dos Cânticos foi tratado com alegorias. (…) O Cântico dos Cânticos foi colocado no cânon da Sagrada Escritura por ser muito apreciado pelo povo israelita; parecia um bom lugar para conservá-lo. (…) O Cântico dos Cânticos é poesia erótica (alguns poderiam considerá-la libertina) escrita por uma mulher muito desinibida (também alguns podendo considerá-la libertina), que considera o relacionamento metafórico entre dois amantes um motivo para entregar-se até com mais prazer às delícias do amor humano. (…) Os professores e educadores religiosos evitam o Cântico dos Cânticos por ser excessivamente vívido, realista e sensual. Talvez viesse a provocar maus pensamentos nas pessoas… Por isso, fingimos que ele não existe ou fazemos uma tradução em que toda a sensualidade contida nele seja suprimida.”
Já foi constatado que esse Cântico dos Cânticos possui inegáveis paralelos com antigas canções de amor egípcias. Provavelmente originou-se delas. Apesar de uma certa resistência, o livro foi aceito como parte do cânon judaico durante o Sínodo de Jamnia (alguns chamam de Concílio), em 90 d.C., não porque fosse considerado uma alegoria, mas sim devido à sua popularidade. E, posteriormente, como já aparecia tanto na Bíblia hebraica como na versão grega da Septuaginta, passou sem maiores dificuldades para o cânon cristão.
De qualquer maneira, para os que não precisam fingir nada para ninguém, inclusive para si mesmos, o diagnóstico lúcido do padre Greeley constitui uma pá de cal na idéia de uma “inspiração divina” para a escolha dos livros canônicos. O critério de escolha do cânon inteiro foi sempre exclusivamente humano, sujeito a todos os erros, falhas e falta de discernimento dos sacerdotes judeus e cristãos, capazes, sim, de ver algo de útil nesse lascivo Cântico dos Cânticos e rejeitar uma preciosidade como o Livro de Enoch, de que tratarei mais à frente.”


Embora eu veja mérito no conjunto do trabalho mencionado acima, não vejo da mesma forma esse ponto especifico.

Existe um trabalho que pode ser útil para melhor compreensão do que o livro “Cantares” tem a nos dizer. Penso que vale a pena buscar a compreensão sobre o assunto. Pois "a despeito das metáforas que temos dificuldade em entender", existe uma chance de que aja um pouco mais ali, um pouco mais do que naturais limitações de compreensão podem “desvendar”.

Entre os árabes, surgiu, em certa época, o costume de recitar poemas eróticos (wasfs) diante do noivo e noiva, pouco antes da cerimônia de casamento, é provável que tal fato tenha estimulado alguns estudiosos a atribuírem ao “Cantares” significado similar. Por vezes apontado como antologia exaltando o amor físico, outras, como coletânea de cânticos nupciais. As teorias são variadas, pois no próprio texto nada se lê que possa ajudar a esclarecer a questão.

É o erotismo que causa a dificuldade para justificar a inclusão do Cantares no cânon das Escrituras Sagradas (ES). Para alguns o livro seria um grande mashal, ilustrando a riqueza e a beleza do amor físico humano.

Mas e se seu significado estivesse relacionado a algo muito, muito maior? Algo que somente teria se preservado justo por causa de uma maneira tão singular de expressar?

Não quero aqui ir além em questões históricas, apenas incentivar um novo olhar para o conteúdo do livro Cantares. O trabalho de que falei, indico abaixo. Espero que possa ser útil.

Deixo apenas a indicação, cada um dê ao trabalho indicado o valor que quiser.


Allan R. Régis.
ar.regis@terra.com.br


Conversas sobre este artigo:

(Orkut) Arquitetos do conhecimento:

Nenhum comentário: