'/> ·ï¡÷¡ï· V I D A Humana·ï¡÷¡ï·: Perspectivas contemporâneas - O si mesmo

agosto 22, 2011

Perspectivas contemporâneas - O si mesmo


Esta postagem é uma conversa ocorrida no site Orkut e foi motivada pelo texto "O si mesmo" disponível neste blog através do link abaixo.

Deixo o link para a leitura e neste post publico apenas a conversa.


****

Eustáquio
Allan. Em primeiro lugar é um assunto interessantíssimo e muito bem explicado por ti, fizestes bem as vezes de anfitrião no tema.

Em segundo é realmente a tendência natural apontarmos este "si" como um voltar e isso é comum em algumas filosofias cujo tema seja justamente esta dialética de um "eu" ou de um "si" com o "outro" sendo assim fica mais apropriada a questão do "si" como voltado a si.

Separei o "mesmo" de propósito por este confirmar claramente a tendência à primeira linha que apresentastes, pensar o sujeito como uma caixa fechada, ou melhor, como uma bolha ainda intacta sem a ação do ar é exatamente o que temos em mente para explicar este "si mesmo".

Ações, decisões, reflexões todas dentro deste "um entre outros" e este individualismo não é somente prova mor de um isolamento, mas de uma condição de identidade, porque a identidade é uma forma (neste campo, vale ressaltar) de isolar um sujeito dos demais, e se diz exatamente que este é igual a "si mesmo".

Quanto ao julgamento deste si mesmo, que penso ser uma questão igualmente pertinente deixo para mais adiante.

Bem vindo ao espaço da comunidade Allan (boas vindas dadas aos postantes deste espaço)

Sugiro aos confrades que participem deste tópico, é interessante!

Kátia
Numa sociedade o "si mesmo" pouco atua.Esse individualismo seria a atuação de "si mesmo",estariamos caminhando para uma novo formato de sociedade que não seria uma sociedade?

Eustáquio
É um perigo responder afirmativamente esta questão Kátia
Mas espero que não caia neste ponto, que não tenhamos esta pseudo-sociedade entre nós.

Allan R. Régis.
Olá a todos! Quando surgiu em mim a motivação para escrever sobre o “si mesmo” foi por ter percebido que, quando dentro de um grupo dito religioso, me sentia muito a vontade para lançar pontos de reflexão a adeptos de crenças diferentes. Com o tempo reconheci que uma boa parte deste comportamento se devia ao fato de eu acreditar totalmente em meu próprio julgamento (fato que HOJE me parece obvio),bem como que, acreditar em algo, nem sempre significa compreender este algo... Tomando por base eu mesmo, e aquilo que procurava incentivar nos outros, percebi que eu próprio não questionava com seriedade aquilo que aceitei como verdade e considerei muito arrogante querer que outros fizessem aquilo que eu não tinha coragem para fazer...Comecei inicialmente sozinho a pesquisar e tentar compreender, embora reconheça que cada qual tenha uma maneira singular de buscar compreender algo, procurei, de acordo com as oportunidades que surgiam, incentivar pessoas com a mesma crença que eu, a um questionamento mais amplo sobre nossas próprias crenças, foi aí que me deparei com o “si mesmo”...

Ocorre que quando questionávamos a crença dos outros, tudo ia de forma... “normal”... o problema era quando se procurava dirigir um questionamento igualmente amplo àquilo que aceitávamos... Era estranho... pois parecia extremamente útil dizer ao outro: “Reflita e questione a sua crença, não aceita nada que não possa compreender...”, quando justo quem assim falava nada compreendia da própria crença... e quando, com o tempo, comecei a questionar de forma aberta principalmente nosso comportamento de “adepto” ouvia de forma esquisita o conselho de que cada um deve buscar por “si mesmo”... que não devemos aceitar o que dizem sem reflexão própria... que cada um constrói por “si”, aquilo que acredita... Sou meio lento pra compreender as coisas e precisei de um certo tempo para conseguir encontrar resposta... para compreender o que estavam querendo dizer... pois a intenção é muito mais do que as palavras significam...

O fato de pessoas de mesma crença recorrerem ao “si mesmo” tinha origem no medo de que perguntas, questionamentos, poderiam influenciar cada adepto e de tal modo que, com o tempo, a fé pudesse ser abalada... Eu precisava chegar a alguma conclusão sobre este “si mesmo”, algo que fosse simples e objetivo... consegui o que postei lá em cima mas, quando cheguei a tais conclusões considerei bem provável que quem antes aconselhava o “si mesmo” não sabia o que dizia...

O “si mesmo” que considero legítimo, em que vejo comunhão de palavra e significado é o primeiro, mas no mundo atual, e principalmente no meio social em que estamos, não ocorre... a quantidade de informações a que estamos expostos através dos mais diversos meios não tem como ser ignorada... embora eu acredite ser sadio aquele lento amadurecer, nossa estrutura social exige desenvolvimentos rápidos... foi por isso que escrevi anteriormente que, quem aconselhava o “si mesmo” não sabia o que dizia, pois ignorava a influência que a sociedade naturalmente exerce em nossas tomadas de decisões, em nossas “verdades”... era uma indicação que embora me pareça útil, se tornava sem sentido não bem por ser dita por quem não compreendia o significado, mas por ser ouvida e aceita por quem nem ao menos queria refletir sobre um significado...

Acredito que no caminho natural a construção do que chamamos de “si” seja algo realmente individual, não desconsidero as influências, venham de onde vierem, mas elas não são resoluções para cada um, bem, é o que vejo como caminho natural... embora eu esteja considerando que tudo que nos aconteça seja devido a uma anterior escolha, reconheço que dentro da sociedade estão expressados diferentes aspectos de maturidade que em alguns casos são ilustrados por diferentes níveis culturais, bem como que dentro desta diversidade estarão pessoas que não saberão o que fazer com aquele oceano de informações, o que poderia ser utilizado como argumento de que o que chamamos de “si” não seja algo individual, mas um efeito da força do coletivo sobre o individuo... qual abordagem serve para cada um, cada um decide por “si mesmo”... Aqui talvez pudéssemos dizer que o “si” seria o indivíduo, considerado em sua singularidade; o “mesmo” seria a afirmação do uso das características singulares. Sei que fica meio obscuro, pois de qualquer forma tais característica estarão sempre atuando, no entanto, quando escrevo “afirmação do uso”, considero apenas uma reflexão consciente como ingrediente para o reconhecimento do valor daquilo que queiramos seguir ou rejeitar,

Muito proveitosa a união de individualismo com identidade e aqui temos um bom exemplo de como as coisas ocorrem rápido em nossa sociedade, pois aceito o sentido sem ter chegado por mim mesmo a ele.

Acredito que o individualismo (entendido aqui como aquele processo singular de reconhecimento, ou seja, não egocêntrico no sentido de buscar satisfação a custa da necessidade dos outros) possa alterar mesmo o formado da sociedade e tal seria possível através de alteração nos valores vigentes, o que não significa que teria de ser algo ruim, afinal, pessoas fortes não precisam, necessariamente, brigar.

Nosso atual formato de sociedade é egocêntrico, no sentido mais danoso possível, é como um vírus... 1% mais rico da população brasileira controla 53% das riquezas, quase metade da humanidade (2,8 bilhões de pessoas) “vivem” abaixo da linha da pobreza de um dólar por dia...

Aqui, acredito que a afirmação do “individualismo construtivo” possa, além de modelar os valores pessoais, nos fazer compreender que os outros indivíduos, o corpo social, também tem seu direito de desenvolvimento e não podem ser tratados apenas como meio para o enriquecimento de uma minoria, tal como tem ocorrido até hoje.

Agora, chegamos ao ponto em que não apenas falamos do processo de formação da identidade, mas como tal identidade ganha força através da união com semelhantes e estabelece valores sociais. Vou deixar link para outro tópico que acabo de abrir, pois acredito que com ele fica mais clara a intenção do que quero dizer com a expressão “si mesmo”. (1)

Eustáquio
Certamente trazer um debate rico é pouco feito hoje em dia. Quando te leio escrever "questionar as próprias crenças" percebo ainda que este problema está longe de uma solução porque passa certamente pela concepção de si, pela concepção de outro e ainda e de forma mais complexa pela concepção de fronteira entre as duas concepções anteriores, enfim, tarefa árdua, mas, interessante, vamos seguir esta linha de raciocínio e ver o que poderemos esperar.  Excelente tópico!


(1) O tópico em questão é indicado abaixo.

Nenhum comentário: