'/> ·ï¡÷¡ï· V I D A Humana·ï¡÷¡ï·: No campo e na cidade.

setembro 03, 2016

No campo e na cidade.

La Bruyère. Caracteres.  Da cidade - 21, pg 122. Versão Editora Escala.

Na cidade, a educação é feita numa indiferença grosseira pelas coisas rurais e campestres. Mal se sabe distinguir a planta do cânhamo da planta do linho, o trigo do centeio, e um e outro do sorgo: é suficiente saber alimentar-se vestir-se. Não fales à maioria dos burgueses de searas, nem de árvores de corte, nem de videiras, nem de pastagens, se quiseres ser entendido: para essas pessoas essas palavras não são da língua deles. Fala antes a alguns de peças de fazenda, de tarifas, de dinheiro e a outro de requerimentos, de requisições, de convocações e de processos. Conhecem o mundo só pelo que nele existe de menos belo e menos interessante; ignoram a natureza, suas origens, seus progressos, suas dádivas e sua generosidade. Sua ignorância é muitas vezes voluntária e baseada na estima excessiva que professam por seus talentos e sua profissão. Não há tão vil profissional que, no fundo de seu escritório sombrio e enfumaçado e com o espírito ocupado em alguma trapaça, não desdenhe o trabalhador que goza do ar livre, que cultiva a terra, que a semeia e que faz abundantes colheitas; se porventura lhe falam dos primeiros homens ou dos patriarcas, de sua vida campestre e de sua economia, fica espantado que alguém tenha conseguido viver nesses tempos em que não havia ainda advogados, nem tribunais, nem presidentes, nem procuradores. Não compreende como é que se passava então sem cartório, sem audiência e sem botequins.

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