'/> ·ï¡÷¡ï· V I D A Humana·ï¡÷¡ï·: O caçador de borboletas.

novembro 22, 2014

O caçador de borboletas.

Mais um dia de trabalho chegou ao fim e agora, depois de tanto e tanto tempo, ele se permitia sentar em uma pedra e observar, afinal de contas, a mudança era enorme.

Lembrou da primeira vez que viu este pedaço de chão... Terra desolada, sem água, árvores morrendo, lugar inóspito. Era como se a vida tivesse fugido dali, mesmo assim, havia entre seu coração e aquele lugar uma espécie de sintonia. Poeira e aridez não eram suficientes para retirar de seus olhos os nuances de flores que via por ali. Então pensou:

- Preciso fazer algo que ajude a vida desse local a voltar!

E fez mesmo. Procurou, procurou e por fim encontrou lá longe, um córrego, do qual com muito esforço conseguiu desviar água em quantidade suficiente para regar as árvores e as novas plantinhas. Para de certa forma garantir a água futura e incentivar os pássaros a fazerem seus ninhos por ali, fez até uma pequena represa, que desaguava em um pequeno lago que escavou. Retirou muitas pedras, trouxe algumas outras e assim, foi protegendo algumas sementes de flores. Algumas das árvores mais velhas ele derrubou, outras apenas podou, mas em todo lugar se via um trabalho dedicado, intenso, que um pouquinho a cada dia, mas a cada dia um pouco mais, alterava profundamente o aspecto daquele local.

E assim, sol e lua se revezaram sobre sua cabeça. E hoje, bom, hoje finalmente chegou ao "fim" do trabalho.

Com satisfação olhava aquela maravilha, no entanto, percebeu que faltava algo. As sementes já haviam brotado e teciam o mais lindo tapete que as flores podiam formar, mas ... onde estavam as borboletas?

Olhou e olhou, e não as via. Elas simplesmente não estavam ali. Então, teve outra ideia. Ele iria buscá-las onde elas estivessem! Aprumou-se, arrumou sua mochila com alguns pertences e saiu a caçar borboletas...

Caminhou muito, mas muito mesmo até encontrar a primeira delas. Assim que a viu, a agarrou e colocou dentro da mochila. E assim fez com várias outras. Uma borboleta mais linda que a outra. Tão entusiasmado estava na empreitada que não percebeu o quão longe estava de seu recanto de paz, tampouco observou as próprias borboletas dentro da mochila...

Mas, em certo momento, lembrou que seu lugar não era aquele, tinha uma casa e precisava voltar, já haviam muitas borboletas, e com certeza deixariam mais belo o local em que tanto trabalhara...

Se a ida havia passado quase sem ser sentida, a demora da volta foi sentida em todos os segundos.

Demorou, e quando no horizonte já reconhecia seu chão, uma pesada chuva desabou. Com o pouco que tinha, conseguiu se proteger e, esperar. Assim que a chuva terminou sua limpeza, ele voltou a sua caminhada, agora mais alegre pela proximidade do seu recanto, os passos se tornavam mais largos. A medida que se aproximava, começava a ficar confuso. O que via? O que estava diante de seus olhos? Começou a correr, o coração quase lhe saia pela boca, o corpo estava trêmulo. O seu recanto de paz estava destruído na maior parte. A represa havia estourado, árvores foram derrubadas, muitas flores haviam sumido e as que restaram estavam infestadas de ervas daninhas... O aspecto agora parecia pior do que quando viu essa terra pela primeira vez. Sentou na lama, e chorou...

Tanto tempo investido na construção de algo que agora, foi destruído! Arruinado! Então notou que estava segurando a mochila, e sentiu até uma leve alegria, pois as lindas borboletas estavam ali dentro. Abriu a mochila e o que viu lhe devolveu intensamente a tristeza. Todas as borboletas estavam mortas. De que lhe adiantavam agora suas lindas cores?

Já havia sentido tristeza antes, mas esse vazio era algo novo.

Foi com muito custo que percebeu que a beleza do seu "lar" somente foi possível por conta de seu dedicado trabalho, sua zelosa atenção. Percebeu também que trabalho e atenção não eram atitudes que ele deveria tomar de uma vez para sempre, mas a cada dia. Afinal, não era o cuidado com a água da represa ou do lago, a poda das árvores, o plantio de algumas flores, a retirada das ervas daninhas que garantiam a beleza e a harmonia. Não era nada disso, isoladamente, mas era tudo isso em conjunto. Percebeu que só havia uma coisa a fazer, reconstruir tudo. Compreender aquilo em que havia falhado e melhorar. Chorar pelo passado não criava um futuro melhor, apenas lhe roubava o único momento em que podia fazer alguma coisa, o hoje!

E trabalhou de novo, com afinco. O lugar ficou tão bom como era antes e novamente sentou em uma pedra, não apenas descansava, mas contemplava tudo a sua volta. Então, um certo colorido ao longe chamou sua atenção...

- O que é isso? São... são borboletas!?

Elas haviam chegado, descobriram por seus próprios caminhos aquele lugar.

Allan Roberto Regis.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei Allan, e citou um trecho de um poema de Mario Quintana que eu adoro....bj